Editorial

Neste blog, apresentaremos um pouco sobre a história da ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente.🌍

Você também encontrará uma entrevista com Jemis Dieva, um afrodescendente entrevistado sobre o tema, informações de artigos acadêmicos e/ou científicos e uma bibliografia para quem quiser se aprofundar mais sobre o assunto. Todo o conteúdo pode ser encontrado no menu (barra do lado esquerdo).

📣Os slides do seminário estão disponíveis 👉 aqui

"A educação é a arma mais poderosa que você 
pode usar para mudar o mundo."

                                                                    - Nelson Mandela

Neste seminário foi apresentado o contexto histórico da África e um pouco de seus características.
    

 - O continente possui 54 países
- 3º maior continente do Mundo
Berço da Humanidade (os primeiros indícios de seres humanos na história foram encontrados na África)
Diversidade étnica e cultural
Biodiversidade rica em reservas de diamantes, ouro, petróleo, etc.  


🚩Colonização:

A história da ciência e tecnologia africana e afrodescendente tem recebido pouca atenção em  comparação com outras regiões do mundo, devido à escravidão, colonialismo e racismo promovido por europeus e descendentes.

O continente africano sofre com muitas consequências do imperialismo e da colonização europeia, algumas delas são:

  • Atraso econômico e político;
  • Roubo de suas riquezas naturais;
  • Escravização, tortura e assassinato de seus povos;
  • Invisibilização de suas culturas e seus conhecimentos;
  • Racismo;
  • Conflitos territoriais e religiosos.
Esse cenário não favoreceu o continente e a África continua sofrendo com muito preconceito e desigualdade até hoje. Na edição mais recente do relatório anual de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)  da ONU, de 2022, mesmo a África sendo um dos continentes mais ricos em biodiversidade, na lista dos 32 países com menor IDH do mundo, 28 são africanos. 

🌟As Inovações, Inventos e Inventores Africanos e Afrodescendentes

💉Medicina

O conhecimento da medicina se ampliou com os egípcios e se espalhou pelo resto da África e do Mundo.
Papiro médico, o documento cirúrgico mais antigo do mundo. Escrito em hierático no Egito Antigo em 1600 a. C.

Papiros médicos mostram o conhecimento empírico de anatomia, lesões e práticas de tratamentos. As feridas foram tratadas por bandagem com carne crua, linho branco, suturas, redes, almofadas e compressas embebidas em mel para prevenir a infecção, enquanto ópio foi usado para aliviar a dor. Alho e cebola foram usados regularmente para promover a boa saúde e foram pensados para aliviar os sintomas da asma. Cirurgiões egípcios antigos costuravam feridas e ossos quebrados e amputavam membros doentes.

Data de 3600 a. C. mais antiga mumificação do Egito, resultado do conhecimento do corpo humano através de autópsias.

Na região dos Grandes Lagos da África (Uganda e Ruanda) viajantes europeus , em 1879 observaram cirurgias cesarianas sendo realizadas de forma regular em Kahura. A gestante era anestesiada com vinho de banana e uma mistura de ervas eram utilizadas para incentivar a cura. Pela natureza bem desenvolvida dos procedimentos empregados, os observadores europeus concluíram que tinha sido desenvolvidas há muito tempo.
Cesariana bem-sucedida realizada por médicos africanos em Kahura em 1879.

O primeiro transplante de coração humano para humano foi realizada pelo sul-africano negro Hamilton Naki, mas o fama ficou com o cirurgião cardíaco branco Christiaan Barnard em Groote Schuur Hospitalin em dezembro de 1967.

A dimensão precisa e os detalhes dessa contribuição, porém, podem ter acabados soterrados pelo preconceito e o apagamento que marcam o Apartheid e as leis de segregação racial dos Estados Unidos e, assim, a forma como as memórias são contadas, guardadas e lembradas.

Hamilton Naki

🌊Marítima

Em 1987 a terceira canoa mais antiga do mundo e a mais antiga da África foi descoberta na Nigéria por pastores fulani, perto do rio Yobe, na aldeia de Dufuna. Ela é datada de 8.000 anos, e é um corte de mogno africano.
Canoa de Dufuna descoberta na Nigéria em 1987

O barco mais antigo conhecido do Egito remonta há 5.000 anos. Os antigos egípcios sabiam como montar tábuas de madeira em um casco de navio desde 3000 a.C.

Antigos egípcios também sabiam como unir tábuas de madeira com treenails (pino de madeira) para prendê-los juntos, usando breu como cola, para calafetar as emendas. O “navio Khufu”, uma embarcação de 43,6 metros foi encontrada num poço no complexo de pirâmides de Gizé ao pé da Grande Pirâmide, da Quarta Dinastia por volta de 2500 a.C. é um exemplo de um navio que pode ter cumprido a função simbólica de uma barca solar. Os egípcios também sabiam como prender as pranchas deste navio, juntamente com a técnica de encaixe e espiga nas junções.

No século 14 d.C. o rei Abubakari II, irmão do rei Mansa Musa do Império Mali (1230 a.C.– 1600 a.C.) possuía uma grande frota de navios ancorados na costa da África Ocidental. Isto é corroborado pelo próprio Ibn Battuta, que relembra ter avistado centenas de navios do Mali ao largo da costa. Os navios se comunicavam entre si por tambores.


Várias fontes atestam que as vias navegáveis no interior da África Ocidental viram o uso extensivo de canoas de guerra e embarcações utilizadas para o transporte de tropas quando permitido pelo meio ambiente. A maioria das canoas do oeste africano eram esculpidas de um único tronco de árvore maciça. O principal método de propulsão era o remo. Velas também foram usadas em menor escala em navios comerciais. O tronco da paineira era utilizado para a construção e o lançamento era feito através de rolos de madeira para a água. Especialistas em construção de barcos afirmam que este conhecimento era utilizado em determinadas nações, especialmente no Delta do Níger.

➗Matemática

O sistema de numeração dos povos antigos egípcios tinha uma base de representação decimal, pois os seus símbolos podiam-se repetir até nove vezes.




O osso de Lebombo é o mais antigo artefato matemático conhecido. Ele remonta a 35.000 a.C. e consiste em 29 entalhes distintos que foram deliberadamente riscados no perônio de um babuíno. Foi encontrado nas montanhas Lebombo entre a África do Sul e Suazilândia na década de 1970.

Osso de Lebombo

Os egípcios da antiguidade possuíam habilidade matemática sofisticada que foi a base da ciência ocidental que ainda estaria a surgir. Os conceitos de distância, área, peso, volume e tempo foram usados pelos egípcios. O Egito também inventou normas, unidades e métodos de medição. Egípcios inventaram a geometria, trigonometria e muitas outras técnicas matemáticas como a álgebra. Cheikh Anta Diop foi um especialista em civilização egípcia. No artigo Contribuição da África para a civilização mundial: As Ciências Exatas de 1985, ele relata um pouco da ciência sofisticada que os africanos estavam fazendo há muito tempo. 1700 anos antes da época de Arquimedes os egípcios foram capazes de calcular a área de superfície de um hemisfério e do volume de um cilindro com um valor bastante preciso de Pi, ou seja, 3,16. Eles também foram capazes de determinar o volume de uma pirâmide.

Textos como o Papiro Matemático de Rhind e o Papiro Matemático de Moscou mostra que os antigos egípcios podiam realizar as quatro operações matemáticas básicas de adição, subtração, multiplicação e divisão de frações, calcular os volumes de caixas e pirâmides, calcular as superfícies de retângulos, triângulos, círculos e até mesmo esferas. Eles entendiam conceitos básicos de álgebra e geometria, e podiam resolver simples conjuntos de equações simultâneas.




Matemáticos egípcios antigos tinham uma compreensão dos princípios subjacentes ao Teorema de Pitágoras, sabendo, por exemplo, que um triângulo tinha um ângulo oposto à hipotenusa a direita em frente quando seus lados estavam em uma proporção 3-4-5. Eles foram capazes de estimar a área de um círculo, subtraindo um nono do seu diâmetro à quadratura do resultado:

Área ≈ [(8/9) D]2 = (256/81) r2 ≈ 3.16r2,
uma aproximação razoável da fórmula πr2.


Os iorubás tem um sistema numérico extremamente complexo de base vinte. Os números dos Iorubás da Nigéria compõem um sistema interessante, complexo que foi expandindo com a finalidade de contar um grande número de cauris (búzios), conchas usadas como dinheiro. Os iorubás usavam adição, multiplicação e subtração.

Jogo de Ikin do sistema de adivinhação Ifá dos iorubás da Nigéria, Patrimônio Mundial da UNESCO.

Senet (ou Senat) é um jogo de tabuleiro do Egito Pré-dinástico (3.500 a.C.). O mais antigo hieróglifo representando um jogo Senet data por volta de 3100 a.C. O nome completo do jogo em egípcio era zn.t n. t ḥˁb, significando o "jogo da morte". Foi um dos jogos mais populares do Egito.

Por causa do elemento de sorte no jogo e a crença egípcia no determinismo, acreditava-se que um jogador bem sucedido estava sob a proteção dos principais deuses do Panteão Nacional: Rá, Thoth e às vezes Osíris. Por conseguinte, placas de Senet foram colocadas no túmulo ao lado de outros objetos úteis para a perigosa viagem através da vida após a morte e o jogo é referido no capítulo XVII do famoso Livro dos Mortos. O jogo também foi adotado em Chipre e Creta, mas com significado aparentemente menos religioso.

Tabuleiro de Senet

O tabuleiro de Senet é uma grade de trinta quadrados, dispostos em três fileiras de dez. Um tabuleiro de Senet tem dois conjuntos de peões (pelo menos, cinco de cada um e, em alguns conjuntos, mais, jogos, bem como mais curtos com menos). As regras reais do jogo são um assunto de algum debate, embora os historiadores fizessem suposições. Historiadores de Senet Timothy Kendall e R. C. Bell propuseram seus próprios conjuntos de regras para jogar o jogo. Estas regras foram adoptadas por empresas diferentes que fazem o Senet à venda hoje.

Rainha Nefertari jogando Senet. Pintura da tumba da Rainha Nefertari do Egito (1295–1255 a.C.).


🌜Astronomia

A astronomia egípcia começa nos tempos pré-históricos. Um dos mais antigos dispositivos arqueoastronômicos conhecidos no mundo está localizado na bacia de Nabta Playa no Egito datando de 5 mil anos a.C. Cerca de 1000 anos mais velho do que Stonehenge no Reino Unido. O dispositivo foi um calendário pré-histórico que marcou com precisão o solstício de verão e mostra a importância da astronomia para a vida religiosa do antigo Egito ainda no período pré-histórico.

Monumento oval megalítico de cinco metros de diâmetro em Nabta Playa

Os astrônomos do Egito Antigo alinharam as pirâmides ao polo norte usando duas estrelas como referência. A descoberta foi feita por egiptólogos britânicos, que decidiram usá-la para confirmar com precisão quando as pirâmides foram construídas. Eles concluíram que as pirâmides do Vale de Gizé foram construídas com 2 milhões de blocos de pedras em dez anos, por volta de 2480 a.C.

Pirâmides de Gizé alinhadas com o Cinturão de Órion

Os egípcios foram os primeiros a desenvolver o calendário de 365 dias e 12 meses. Era um calendário estelar, criado através da observação dos astros.

Três tipos de calendários podem ser encontrados na África: lunar, solar e estelar. Muitos calendários africanos são uma combinação dos três calendários: calendário akan, calendário egípcio, calendário berbere, calendário etíope, calendário igbo, calendário iorubá, calendário shona, calendário suaíli, calendário xhosa, calendário borana e calendário luba.

Namoratunga é um sítio de arqueoastronômico no lado oeste do Lago Turkana, no Quênia, datado por volta de 300 a.C. Namoratunga II contém 19 colunas de basalto, alinhada com os 7 sistemas estelares: Triangulum, Plêiades, Bellatrix, Aldebaran, Ôrion central, Saiph e Sírius.

Sítio de Namoratunga

A África do Sul tem cultivado uma florescente comunidade astronômica. Ela hospeda o Grande Telescópio Sul Africano, o maior telescópio óptico no hemisfério sul. O país sul-africano recentemente conseguiu construir o Telescópio Karoo Array de US$ 20 bilhões de dólares. A África do Sul e a Austrália, são os anfitriões do Square Kilometer Array (SKA), um esforço internacional para construir o maior observatório de radioastronomia do mundo. Outros países vão receber este projeto como Angola, Quênia, Moçambique e Gana.

Imhotep ( 2655 a.C. - aproximadamente 2600 a.C.)


Imhotep em egípcio significa "aquele que vem em paz”, foi um cientista egípcio que serviu o rei Djoser da Terceira Dinastia, na função de vizir (chanceler do faraó) e sumo-sacerdote do deus-sol Rá, em Heliópolis. É considerado o primeiro arquiteto, engenheiro e médico da história antiga.

A lista completa de seus títulos é:

Chanceler do Rei do Egito, Doutor, Primeiro na linhagem do Rei do Alto Egito, Administrador do Grande Palácio, Nobre hereditário, Sumo Sacerdote de Heliópolis, Construtor, Carpinteiro-Chefe, Escultor-Chefe, e Feitor-Chefe de Vasos.

Imhotep foi um dos poucos mortais a serem ilustrados como parte de uma estátua de um faraó. Foi um de um grupo restritíssimo de plebeus a quem foi concedido o status divino após a morte; o centro de seu culto era Mênfis. A partir do Primeiro Período Intermediário Imhotep também passou a ser reverenciado como poeta e filósofo.

A localização da sepultura de Imhotep, construída por ele próprio, foi escondida com absoluta cautela, e permanece desconhecida até os dias de hoje, apesar dos esforços para encontrá-la. O consenso acadêmico é de que ele estaria escondido em algum lugar de Saqqara. A existência histórica de Imhotep é confirmada através de duas inscrições contemporâneas feitas na base, ou pedestal, de uma das estátuas de Djoser, bem como um grafite na muralha que circunda a pirâmide incompleta de Sekhemkhet. A segunda inscrição sugere que Imhotep teria vivido por alguns anos depois da morte de Djoser, e ajudou na construção da pirâmide do rei Sekhemkhet, abandonada devido ao breve reinado deste soberano.

Imhotep arquitetou a primeira pirâmide do Egito - a pirâmide de Saqqara entre 2630-2611 a. C., com seis enormes degraus, e que atinge aproximadamente 62 metros. Foi quem definiu o processo de treinamento e seleção dos sacerdotes egípcios e arquitetos dentro da jurisdição do Egito Antigo. A estátua de Imhotep foi imortalizada como ele segurando seus pergaminhos médicos e desenhos arquitetônicos.

A preservação do corpo do rei era muito importante para Imhotep, assim como a conservação da nação. Ele escreveu uma enciclopédia de arquitetura que foi usada como base e orientação para os construtores egípcios milhares de anos após sua morte

Imhotep foi uma figura fundamental na medicina do Egito Antigo, ele foi o autor de um tratado médico notável por ser desprovido de pensamento mágico. O denominado papiro de Edwin Smith contém observações anatômicas, doenças e curas. Existem algumas discussões sobre Imhotep ser o verdadeiro "Pai da Medicina", mas isso é contestado por muitos historiadores pois não existem tantos documentos médicos feitos por Imhotep que sobreviveram para serem estudados e preservados hoje em dia,  quem leva esse título hoje é o grego Hipócrates que possui mais documentos e estudos que foram preservados por todo esse tempo. Porém existem evidências que Hipócrates começou a aprender medicina no Egito e plagiou muitos de seus ensinamentos.

Em 26 de abril de 2006 foi inaugurado no Egito o Museu Imhotep em homenagem ao antigo arquiteto egípcio. O famoso egiptólogo professor Zahi Hawass disse: "Eu senti que deveríamos chamá-lo de Museu Imhotep, em homenagem ao primeiro arquiteto a usar a pedra ao invés de materiais perecíveis para a construção em larga escala. Este homem era apenas o preferido do Rei e depois da sua morte foi adorado como um deus.”.


Benjamin Banneker (1731-1806)


Benjamin Banneker, nascido livre em Ellicott, Maryland, era filho de uma mulher negra e um pai africano, que conseguiram comprar a própria liberdade. Banneker foi o primeiro homem negro a ter distinção nas ciências dos Estados Unidos.

Era muito bom em matemática quando estudante. Depois de assumir a fazenda de seus pais, tornou-se um perito em agricultura, Banneker cultivava tabaco. Depois que um mascate chamado Josef Levi mostro-lhe um relógio de bolso a Banneker, o jovem ficou tão fascinado que Levi o presenteou. Em 1753, usando o relógio como modelo, ele esculpiu uma réplica de madeira. Ele calculou as relações e engrenagem do relógio e as esculpiu com uma faca de bolso. O relógio manteve a hora perfeitamente em ponto, funcionando precisamente durante 40 anos. Foi o primeiro relógio de madeira produzido nos EUA.

Ele aprendeu literatura, história e matemática através dos livros que obteve emprestado. Quando seus vizinhos o apresentaram à astronomia, ele aprendeu a ciência tão profundamente que ele previu o eclipse solar de 14 de abril de 1789 e usou seus conhecimentos para publicar um almanaque nomeando-o com Benjamin Banneker Almanac, que foi rapidamente seguido pelo Farmer’s Almanac, que se tornou a principal referência para os fazendeiros dos estados banhado pelo Atlântico.

O então presidente George Washington, ciente do intelecto de Banneker o indicou para a equipe de seis pessoas que projetaram a planta da capital Washington. George contratou Pierre Charles L’Enfant, um engenheiro francês, para a construção planejada da capital federal. Uma das dificuldades foi a relutância dos ricos proprietários de terra da região escolhida em vender suas terras. Outras dificuldades foram os atritos entre L’Enfant e oficiais governamentais norte-americanos, que causariam a dispensa do engenheiro por Washington antes do término da construção.

Graças a Benjamin Banneker, que possuía de cor os planos e desenhos de L’Enfant, a construção da cidade prosseguia. Ele desenhou as ruas capazes de circular dez carros numa mesma pista e edifícios da cidade. O distrito de Columbia foi inaugurado como capital permanente dos Estados Unidos em 1800. O governo federal decidira nomear a capital dos EUA como Washington em uma homenagem a George Washington, não apenas pelo seu papel que teve na criação da cidade, bem como para a história da nação. 

Banneker em sua extensa carta ao presidente Thomas Jefferson era tão repleta de ideias e percepções inovadoras, que Jefferson mudou de ideia quanto à alegada incapacidade intelectual dos negros. Em tributo Jefferson mandou uma cópia do almanaque de Benneker para a Academia Francesa de Ciências em Paris.

A cor da pele não está de nenhuma maneira relacionada à força da mente ou aos poderes intelectuais” escreveu o ensaísta Banneker numa declaração à frente de sua época. Ele também escreveu sobre os efeitos danosos da escravidão.

O almanaque de Banneker de 1795


Thomas Jennings (1791-1859)


Thomas L. Jennings foi o primeiro africano-americano a receber uma patente sobre seu invento, no dia 3 de março de 1821 (número 3306x). Sua patente era um processo de lavagem a seco chamado limpador a seco (dry scouring). Seu primeiro dinheiro ganho com o registro foi usado para pagar a alforria para libertar sua família da escravidão e auxiliar a causa abolicionista.

Devido as leis norte-americanas de então de 1793 e 1836, os “nascidos escravos” e os libertos podiam patentear suas invenções. Entretanto em 1857 um proprietário de escravos chamado Oscar Stuart patenteou o “double cotton scraper” que foi desenvolvido por seu escravo. Arquivos históricos possuem apenas o nome real dos inventores como sendo Ned. Para Stuart “o mestre é dono do fruto do trabalho manual e intelectual do seu escravo”.

Em 1858 o Escritório de Patentes dos Estados Unidos modificou as leis em resposta a atitude de Oscar Stuart. Seu raciocínio era de que escravos não são cidadãos e, portanto não podiam ter patentes em seu nome.

Mas em 1861 os Estados do Norte (no início da Guerra de Secessão ou Guerra Civil Americana), aprovaram uma lei de patentes que dava a todos os homens americanos, incluindo homens negros, os direitos por suas inovações.

Thomas Jennings nasceu em 1791 em Nova Iorque. Ele tinha 30 anos e trabalhava como alfaiate quando lhe foi concedido uma patente para o processo de lavagem à seco. Ele foi um comerciante livre e administrava seu negócio em sua cidade natal. Em 1831 tornou-se secretário-assistente para a Primeira Convenção Anual dos Povos de Cor na Filadélfia. Ele redigiu petições que advogava o fim da escravidão.



Sarah E. Goode (1850-1905)


Sarah E. Goode nasceu em 1850 no período escravocrata. Foi a primeira mulher africana-americana inventora, a receber uma patente nos Estados Unidos. O registro no 322.177 foi concedido em 14 de julho de 1885 para uma escrivaninha-cama. Goode foi proprietária de uma loja de móveis em Chicago.

Ela concebeu este cama dobrável porque os moradores de apartamentos frequentemente tinham pouco espaço para muitos móveis. Desenvolveu um móvel dobrável e articulado. Quando não necessitasse de utilizar a cama, ela poderia ser usada como escrivaninha ou vice-versa.

Escrivaninha-cama patenteada por Sarah


Madame C. J. Walker (1869-1919) e Marjorie Stewart Joyner (1896-1994)

Madame C.J. Walker

Marjorie Stewart Joyner

Sarah Breedlove McWiliams Walker ou mais conhecida como Madame Walker, junto com Marjorie Stewart Joyner revolucionaram o tratamento dos cabelos e a indústria cosmética no início do século 20.

Madame Walker nasceu em 1867 num local paupérrimo, localizado na zona rural de Louisiana. Walker foi a filha de trabalhadores em situação de escravidão, ficou órfã aos sete anos e ficou viúva aos 20. Após a morte de seu marido, a jovem viúva migrou para St. Louis, Missouri, tentando uma vida melhor para si e para o seu filho. Ela suplementava seus rendimentos como lavadora para vender seus produtos caseiros de beleza, de porta em porta. Finalmente, os produtos de Walker formaram a base de uma bem-sucedida corporação nacional, empregando mais de 3.000 pessoas

Seu sistema, que incluiu larga oferta de cosméticos, permitindo que funcionários de Walker e escolas Walker oferecendo empregos e crescimento pessoal a milhares de mulheres negras. Madame Walker possuía uma estratégia de marketing agressiva que combinava uma implacável ambição, que ficou rotulada como a primeira mulher africana-americana que se fez milionária.

A empregadora Walker criou um império. Marjorie Stewart Joyner, sua funcionária, inventou a máquina de fazer permanente. O invento patenteado em 1928, cacheava ou alisava os cabelos das mulheres por um determinado período. Esta máquina de ondular se tornou popular entre as mulheres brancas e negras, permitindo vários estilos ondulados. Joyner se tornou uma figura proeminente na indústria de Walker, mas ela nunca aproveitou diretamente da sua invenção, pois ela foi atribuída como propriedade da Companhia Walker.

Após a sua morte em 1919 sua companhia possuía mais de 2000 vendedores que vendiam cada vez mais os produtos e demonstravam o sistema Walker de tratamento dos cabelos. Seus esforços permitiram a fundação da indústria cosmética entre os africanos- americanos antes da Avon Lady.

Máquina de Fazer Permanente inventada por Marjorie


Percy Lavon Julian (1899-1975)


Percy Lavon Julian foi um pesquisador em química orgânica afro-americano e um pioneiro na síntese química de medicamentos a partir de plantas. Nasceu em Montgomery no Alabama em 1899. Graduou-se na Universidade DePaw em 1920. Conquistou seu Ph.D. pela Universidade de Viena na Áustria em 1931.

Ele sintetizou a cortisona a partir da soja e abriu caminho para o desenvolvimento do tratamento do Mal de Alzheimer e do glaucoma com seus experimentos em 1933.

Sua investigação da síntese da fisostigmina, uma droga para tratar o glaucoma, notou a progressão da memória dos pacientes com o mal de Alzheimer e serviu como antídoto para o gás nervoso. Ele foi o primeiro a sintetizar o produto natural fisostigmina, e foi um dos pioneiros na síntese química industrial em larga escala dos hormônios humanos, esteróides, progesterona e testosterona, a partir de esteróides vegetais, tais como estigmasterol e sitosterol. Seu trabalho serviu como base para a produção da indústria de medicamentos esteroides de cortisona, outros corticosteroides, e da pílula anticoncepcional.

Em 1954 foi presidente da Julian Laboratories que criou para produzir os seus medicamentos. Especializou-se na produção de seu cortisona sintética. Sintetizou esteróides intermediários do inhame selvagem mexicano. Seu trabalho ajudou a reduzir o custo de esteróides intermediários de grandes empresas farmacêuticas multinacionais. Sua companhia tinha operações nos EUA, México e Guatemala. Julian registrou 105 patentes durante a sua vida.

Julian foi um dos primeiros afro-americanos a receber um doutorado em química. Ele foi o primeiro químico afro-americano empossado na Academia Nacional das Ciências, e o segundo cientista afroestadunidense a obter pós-doutorado em qualquer área. Ele defendeu o direito dos negros de entrar em universidades até sua morte por câncer em 1975. Foi um dos grandes químicos do século 20.

Seu nome está registrado no Salão da Fama dos Inventores (National Hall of Fame) por suas imensas contribuições para a ciência mundial.


Valerie L. Thomas (1943-presente)


Valerie Thomas recebeu uma patente em 1980 por inventar um transmissor de ilusão 3D. Esta invenção futurista estende a ideia da televisão, com suas imagens categoricamente localizadas atrás da tela, para ter três projeções dimensionais aparecem como se eles estavam certos em sua sala de estar. Talvez no não tão distante futuro, o transmissor de ilusão será tão popular quanto a TV é hoje.

Matriculou-se na Morgan State University, Valerie Thomas trabalhou como analista de dados matemáticos para a NASA, após receber um diploma em física(uma das duas únicas mulheres em sua classe para fazer isso). Depois de estabelecer-se dentro da agência, ela foi convidada para gerenciar o projeto "Landsat", um primeiro sistema de processamento de imagem que permitia o satélite transmitir imagens a partir do espaço.

Em 1977 ela começou a fazer experiências com espelhos planos e espelhos côncavos, dando a ilusão de que eles existem em uma imagem tridimensional. Thomas acreditava que as imagens, apresentadas desta forma poderia fornecer uma maneira mais precisa, se não mais interessantes, na representação de vídeo de dados. Ela não só viu o processo como uma descoberta potencial para televisão comercial, mas também como ferramenta científica para a Nasa.

Thomas solicitou uma patente para seu processo em 28 de dezembro de 1978 e os patente foi emitida em 21 de outubro de 1980, sob o no 4.229.761.

Valerie Thomas continuou a trabalhar para a NASA até 1995 quando se aposentou. Além de seu trabalho com o transmissor de ilusão, ela projetou programas para pesquisar o cometa Halley e os buracos na camada de ozônio. Ela recebeu inúmeros prêmios para seu serviço, incluindo um Prêmio da NASA . Em sua carreira, ela mostrou que a magia da fascinação pode levar a aplicações científicas concretas para resolver problemas. Além de ter trabalhado em diversos projetos de alta tecnologia na NASA, Thomas trabalha em projetos que defendem os direitos das minorias nos Estados Unidos.
Patente de Valerie



Cheick A. Diop (1923-1986)


Cheick Anta Diop foi físico, matemático, químico, historiador, egiptólogo e antropólogo, linguista, sociólogo e ativista político. Nasceu em 19 de dezembro de 1923 na região de Diourbel (Baol-Cayor), Senegal. Até os 14 anos estudou em uma escola corânica, a Escola Regional de Diourbel. Em 1938 foi enviado a Dacar para cursar a escola secundária que concluiu em 1945 em San Louis. Durante seus últimos anos de ensino médio, inicia a criação de um alfabeto para traduzir seu idioma africano (wolof) e inicia a produção de uma história do Senegal.

Aos 23 anos em 1946, viaja para Paris para cursar estudos superiores de matemática, com o objetivo de estudar para se formar como engenheiro aeronáutico. Ao mesmo tempo se matricula na Faculdade de Filosofia e Letras de Sorbonne, tendo aulas com Gaston Bachelard. Participa da criação da Associação de Estudantes Africanos em Paris. Em 1947 inicia suas investigações linguísticas sobre os wolof e os sererê junto com Henri Lhoote, o descobridor das pinturas dos Tassilis saarianos. Em 1948 termina seus estudos de filosofia matriculando-se na Faculdade de Ciências.

Nesta época o estudo da história africana e o próprio continente em sua maior parte, eram dominados por europeus, num período de dominação colonial, que considerava os africanos como “povos sem passado” e o Egito Antigo, um “território que pertencia ao Oriente Médio com populações de pele marrom avermelhada não negras”.

No ano de 1954 publica Nações Negras e Cultura, obra solidamente baseada em pesquisa objetiva, que defende a tese da origem negra da civilização do Antigo Egito. Um golpe profundo na projeção anti-científica dos estudos africanistas que dominaram os séculos 18, 19 e a maior parte do século 20. Inicialmente este livro era a sua tese de Diop para a Sorbonne. Foi rejeitada por uma banca de autoridades em egiptologia, composta por homens brancos franceses de visão racista e colonialista.

A partir de 1956 ministrou aulas de física e química nos institutos de ensino médio Voltaire e Claude Bernard em Paris. Durante estes anos se especializa em química e física nuclear. Dr. Diop trabalhou num dos mais importantes centros de pesquisa nuclear da França, que foi criado por Frederick Joliot-Curie, filho de Marie Curie que com o seu marido Pierre, ganharam o Prêmio Nobel pela descoberta do elemento químico rádio.

Em 1961 continua escrevendo teses sobre a África e inicia em Dacar a construção de um laboratório para a datação do carbono 14, chamado I ‘IFAN – Instituto Fundamental da África Negra (L’Institut Fondamental d’Afrique Noire), localizado na Universidade de Dacar (atualmente denominada Universidade Cheick Anta Diop). Seu objetivo era demonstrar com análises microscópicas, a cor da pele das múmias, confirmando assim a origem negra dos faraós, até então negada pelos pesquisadores brancos europeus.

Inicia também sua participação política auxiliando na criação de um partido de oposição, o Bloco das Massas Senegalesas (BMS). No mês de julho de 1962 é preso e depois posto em liberdade destituído de seu cargo de comando do partido em agosto do mesmo anos. No ano seguinte, o BMS é declarado ilegal e é dissolvido, mas cria um novo partido que igualmente será dissolvido pelo governo do presidente Léopold Sedar Senghor em 1964. Em 1966 durante a celebração do Primeiro Festival de Artes Negras, recebe o prêmio de escritor que mais influenciou sobre o pensamento africano no século 20.

No anos de 1970 é convidado pela UNESCO para ser membro do comitê científico internacional encarregado de escrever a coleção História Geral da África. Durante os anos seguintes participa de diversos congressos internacionais na África, Europa e Estados Unidos.

Falece em 7 de fevereiro de 1986 de infarto aos 62 anos, legando um acervo riquíssimo de obras essenciais para a história dos povos negros africanos e de toda a diáspora. Foi enterrado em sua aldeia natal, junto ao seu avô e fundador do vilarejo, Massamba Sassoum Diop, O Velho.

Bibliografia:

Nações Negras e Cultura (1954)
A Unidade Cultural da África Negra (1959)
A África Negra Pré-Colonial (1960)
Os Fundamentos Econômicos e Culturais de um Estado Federal da África Negra (1960)
A Origem Africana da Civilização: Mito ou Verdade Histórica? (1967)
O Laboratório de Rádio Carbono do L’IFAN (1968)
Física Nuclear e Cronologia Absoluta (1974)
A Antiguidade Africana por Imagens (1975)
Parentesco Genético dos Faraós Egípcios e Suas Línguas Negro-Africanas (1977)
Civilização ou Barbárie (1981)
Novas Pesquisas Sobre o Egito Antigo e as Modernas Línguas Africanas (1988)


Virginia Leone Bicudo (1910-2003)


Nasceu na cidade de São Paulo, SP, em 1910, filha de Theophilo Julio Bicudo trabalhador e descendente de imigrantes africanos forçados e escravizados no Brasil e da trabalhadora e imigrante italiana livre Giovanna Leone. Na fazenda de café na região de Campina de Bento Augusto de Almeida Bicudo, vive Theophilo Julio, filho da escravizada alforriada Virgínia Julio, cuja história se perdeu e filha de pai desconhecido, uma realidade provocada pelo ciclo vicioso da escravidão, racismo, pobreza e violência daquele tempo. Seu padrinho e patrão, o branco Bento Bicudo, percebe desde cedo a notável inteligência do garoto Theophilo e o recebe para morar no interior da casa − um empregado de dentro, como se dizia daqueles cujas atividades se davam na casa dos patrões −, favorecendo sua educação até a idade adulta. Mais tarde, Theophilo passa usar o nome Bicudo, devido ao costume da época, pós-abolição, quando os libertos, na falta de sobrenome de família, resultado da violência cultural da escravidão praticada pelos brancos escravocratas, adotavam o dos patrões. A mãe, Giovanna Leone (ou Joana), foi babá da filha de criação do coronel e senador branco Bento Bicudo, que por sua vez era padrinho do pai de Virgínia, Teophilo Bicudo.

Em São Paulo, o pai, com o apoio do coronel Bicudo, tornou-se funcionário dos Correios e Telégrafos e depois ascendeu na instituição até chegar a diretor de uma agência paulistana. Theophilo foi servidor público federal durante toda a sua vida e para completar a renda familiar, dava aulas particulares em sua casa à noite. Havia planejado a carreira em medicina que tentou por 10 anos, mas suas tentativas foram frustradas pela recusa em recebê-lo, pois era negro.

A segunda filha do casal, nomeada Virgínia como a avó paterna, desde pequena dá sinais de viva inteligência e profundo interesse pelo saber, traços que conservará por toda a vida estudantil e profissional.


Inicia sua vida escolar na Escola Normal do Braz, concluindo os cursos primário e médio em novembro de 1921. Como as três irmãs, Virginia cursou a Escola Normal da Capital (futura escola Caetano de Campos e hoje sede da Secretaria Estadual da Educação). Ela decidiu fazer o curso de educação sanitária no Instituto de Higiene de São Paulo em 1932 e trabalhou por muitos anos em vários órgãos municipais e estaduais, sempre na área da educação.

Tornou-se funcionária da Diretoria do Serviço de Saúde Escolar do Departamento de Educação, onde tinha como atribuição dar aulas de higiene em escolas do Estado de São Paulo. A partir dessa experiência, Virgínia se interessou pela sociologia e iniciou o curso de Ciências Sociais na Escola Livre de Sociologia e Política em 1936. Entre os oito bacharéis em Ciências Políticas e Sociais de 1938, Virgínia é a única mulher e negra, revelando desde então essa face pioneira, que continuará se manifestando ao longo dos próximos muitos anos.


Em 1942, Virgínia iniciou o mestrado, sob a orientação de Donald Pierson, sociólogo estadunidense doutorado pela Universidade de Chicago, é professor da mesma escola até 1959. Autor de importantes pesquisas realizadas no Brasil na área de Sociologia Urbana influenciou toda uma geração de sociólogos e antropólogos. Em 1944 ele é o orientador que fornece cuidadosas observações a Virgínia quando esta escreve sua dissertação, a ser apresentada no ano seguinte na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. Lá teve a oportunidade de articular seus interesses pela sociologia e pela psicanálise ao estudar as desigualdades étnicoraciais e os conflitos existentes entre brancos e negros. Sua dissertação de mestrado, intitulada Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo, foi a primeira defendida no Brasil sobre a temática, tendo, diferente do seu orientador Donald Pierson, compreendido que o preconceito racial é uma variável relevante na organização e produção social.


Inovadora, com articulação entre a antropologia, a sociologia e a psicologia social, Virgínia investigou as atitudes raciais e sociais de grupos de pais e mães de estudantes de escolas públicas em bairros populares e de classe média paulistana, por meio de entrevistas e estudos de caso.

Em 1945, tornou-se professora-assistente da cadeira de higiene mental da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Como socióloga, Virgínia fez uma cuidadosa pesquisa intitulada: Atitudes dos Alunos dos Grupos Escolares em relação com a Côr dos seus Colegas, publicada no livro Relações Raciais entre Negros e Brancos em São Paulo em 1955. Trata-se dos resultados de uma pesquisa patrocinada pela UNESCO, em parceria com a Editora Anhembi, dirigida por Roger Bastide.

Em entrevista dada por Virgínia a Anna Verônica Mautner e Luiz Meyer, em outubro de 1983, fala dos efeitos da hegemonia branca que sofreu quando criança:

"Eu fui criada fechada em casa, quando saí foi para ir à escola e foi quando, pela primeira vez, na escola, a criançada começou: negrinha, negrinha. Quando eu estava em casa, eu nunca tinha ouvido. Então eu levei um susto. Saí de casa para a rua e a criançada que era colega de escola, tal, só batia palmas com: negrinha, negrinha, negrinha. Eu me fechava em casa, voltava para dentro, um susto, né?
Ter nota boa... ser ótima aluna e ter nota boa é uma proteção para o negativo: negrinha é negativo, nota boa é positivo. Ser negrinha com nota boa..."

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo: "O que me levou para a psicanálise foi o sofrimento que eu queria aliviar... Desde criança eu sentia preconceito de cor e procurei o curso de Sociologia para me proteger do preconceito".

Virgínia Bicudo foi a primeira psicanalista não médica na América Latina. 

Psicanalista e socióloga reconhecida, Virgínia Leone Bicudo tornou-se referência nos estudos étnicoraciais e também por ser a primeira pesquisadora e professora descendente de africanos a ocupar um lugar de destaque na divulgação, formação e desenvolvimento da psicanálise no Brasil. Faleceu em 2003, aos 92 anos.


Jesse Russell (1948-Presente)

"O Pai da Telefonia Digital"

Jesse Eugene Russell (Nova Iorque, 26 de abril de 1948) é um inventor afro-americano. Ele foi treinado como engenheiro elétrico na Tennessee State University e Stanford University, e trabalhou no campo da comunicação sem fio por mais de 20 anos.

Durante seus primeiros anos, ele se concentrou no atletismo e não na academia. Um ponto de virada chave na vida de Russell foi a oportunidade de participar de um programa educacional de verão na Fisk University em Nashville, Tennessee. Russell participou dessa oportunidade educacional e iniciou suas atividades acadêmicas e intelectuais. Russell continuou sua educação na Tennessee State University, onde se concentrou em engenharia elétrica.

Na década de 1940, quando o mundo já experimentava a comunicação via rádio, e a ideia de criar uma rede de telecomunicações baseada em radiofrequência começou a ser desenvolvida. Conduzindo seus próprios experimentos, sete anos mais tarde (1947) a operadora norte-americana Bell Laboratories (afiliada à AT&T), desenvolveu um sistema telefônico acoplado no rádio do carro e interligado por várias antenas.

A AT&T Bell Laboratories, contratou Jesse Eugene Russell, como Diretor Técnico em 1972 – nessa época, Russell estava cursando o último ano de engenharia elétricaAo ingressar na empresa de telefonia, Russell torna-se o primeiro afro-americano a ser contratado diretamente de uma Universidade e Faculdades Historicamente Negras (HBCUs), que são redes de ensino superior estabelecidas nos Estados Unidos durante a segregação racial com a intenção de educar principalmente e unicamente afro-americanos.

Na época, um telefone tradicional para carro usava um transmissor de alta potência e uma antena externa, eram ideais para pessoas que moravam em áreas rurais ou não desenvolvidas, onde os celulares não funcionavam. Mas, para acabar com esse problema, em 1980, Russell sugere que os car phones saíssem dos carros e fossem para as mãos das pessoas criando assim telefones móveis.

Porém, a empresa encontrou um problema na ideia: além de que já estavam perdendo muito dinheiro com a divisão de rádio celular, o espectro eletromagnético específico que utilizavam eram de baixa frequência. Tratava-se do AMPS (Advanced Mobile Phone System / Sistema Avançado de Telefonia Móvel), que apenas permite a transmissão de voz, desenvolvido pela própria AT&T Bell Laboratories em 1979.

Felizmente para a Bell Laboratories, Russell já era o principal especialista em processamento de sinal digital da empresa e, por isso, encontrou uma solução para esse problema técnico: digitalizar os dados.

A missão de Russell e sua equipe foi desenvolver a tecnologia que a empresa já tinha. Com a conversão de sinais analógicos para dados digitais, de 1984 a 1988, nos laboratórios Bell, Russell encontrou soluções técnicas, inclusive para a digitalização completa da fala e assim reduzir a largura de banda.

O engenheiro foi pioneiro ao usar um microprocessador de computador em seu projeto. Através do uso desse amplificador e de tecnologias de codificação de voz de baixa taxa de bits, o engenheiro pôde inventar a microcélula de fibra óptica, que possibilitou o tráfego de dados e novos serviços digitais para usuários de celulares, a exemplo a internet banda larga.

Russell melhorou radicalmente a maneira como os telefones celulares modernos funcionam, bem como a comunicação coletiva. Sua descoberta possibilitou a invenção da primeira estação base de celular digital e deu um salto, alterando para a 2° Geração dos telefones móveis, ou 2G. Em 1992, por seu trabalho na área digital projeto, recebe sua primeira patente, a EUA nº 5.084.869.


Inovações Atuais Africanas

Carregamento solar , "Plataforma Quiosque Móvel” (Ruanda):

O “Mobile Kiosk Platform” foi inventado pelo ruandês Henry Nyakarundi é uma unidade móvel de carregamento eléctrico para telefones móveis. O processo é simples : de dia, dois painéis solares  40W) carregam as baterias , durante a noite ou em dias nublados , pode ser alimentado por um sistema de pedalar . Este quiosque móvel pode carregar até 16 telefones ao mesmo tempo por um custo modesto (10 centavos).

Henry Nyakarundi

Conversor de vento Saphonian , sem lâminas (Tunísia):

Innovators Hassine Labaied e Anis Aouini Saphon de Energia, uma startat-up tunisiana desenvolveu uma turbina eólica sem pás baseado nos barcos a vela . Um único elemento redondo capta o vento em toda a sua extenção e é uma contrapartida as com as hélices que matam os pássaros e interferem nas ondas de rádios. Neste caso a energia eólica é convertida primeiro em energia mecânica por pistões e energia hidráulica e, finalmente, em eletricidade. A turbina Saphonian recebeu uma patente internacional, em março de 2013 e Saphon Energia está atualmente à procura de uma colaboração com um fabricante industrial.


Cardiopad o exame remoto (Camarões):

O Camarões tem identificados apenas 30 cardiologistas para 20 milhões de pessoas. O Cardiopad foi criado para compensar esta falta. É um tablete que pode fazer exames de eletrocardiograma remotamente , por exemplo, em áreas rurais. Os resultados são transferidos sem fios a um especialista que analisa conexão. Depois de desenvolver o Cardiopad, Arthur Zang recebeu assistência de 30 mil dólares do governo . Isso permitiu que o jovem engenheiro criar Himore Medical , uma pequena empresa que emprega cinco pessoas, cuja missão é desenvolver dispositivos médicos.

Arthur Zang


Afrofuturismo

Muito mais que uma estética da moda, Afrofuturismo é, acima de tudo, o poder nas nossas próprias mãos

Afrofuturismo! Parece ser uma das “sensações” do momento; muita gente querendo saber sobre, muita gente buscando referências sobre, muita gente atrás de pessoas que possam falar sobre. Ao que tudo indica, organizadores de eventos literários, musicais e de arte em geral, cada vez mais, correm atrás de escritores, artistas e profissionais que possam elucidar acerca da questão, na ânsia de atender à crescente demanda pela temática afrofuturista por parte de uma fatia cada vez mais crescente do público.

Como declarou em 2016 Achille Mbembe, filósofo camaronês e um dos principais estudiosos do pós-colonialismo: "O mundo de amanhã será a África", referindo-se ao fato de que daqui 30 a 50 anos uma em cada três pessoas no planeta será africana ou descendente de uma em diáspora. Na visão do intelectual, torna-se necessário pensar caminhos para que essa vantagem populacional se traduza em produção de riquezas em vez de uma maior precarização da vida de negros e negras no mundo.

O afrofuturismo, assim como o pássaro, apesar da grande ligação com o que ainda está por vir, sempre olha para trás. Busca os saberes ancestrais enquanto avança. O movimento formalmente recebeu esse nome no começo dos anos 1990 e possui algumas definições — só nessa reportagem, seis pessoas dão seis visões diferentes, porém não excludentes. O afrofuturismo vive em uma constante conversa entre o que é a realidade e o que é ficção. Apesar das obras mais conhecidas serem no campo do cinema, música e literatura, o diálogo com a ciência e a tecnologia também se faz de forma direta.

Fonte: https://www.geledes.org.br/afrofuturismo-o-futuro-e-negro-o-passado-e-o-presente-tambem/

Fonte: https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/reconstrucao-afrofuturismo/#page2

Conclusão

Durante a maioria da história da humanidade, o continente africano foi explorado, escravizado e marginalizado, ele foi excluído do mundo ocidental e oriental e sempre foi associado com pobreza, violência e precariedade. Como vimos neste blog, a África é muito mais do que o estereótipo racista que a sociedade diz sobre ela. A história dela nas ciências e inovações foram afetadas pelo racismo e pelo Apartheid. Como reparação histórica, é importante estudarmos sobre os conhecimentos perdidos e/ou exterminados pelos colonos como forma de combate ao apagamento científico. É importante também entender que o continente está se reconstruindo, ele foi privado de desenvolvimento político e tecnológico por muito tempo, por isso a realidade de muitos países africanos é diferente da realidade de muitas pessoas no mundo, se os países fora do continente quererem de alguma forma ajudar, eles podem fazer isso no meio de incentivo á educação e aos projetos científicos africanos, realizar eventos científicos mundiais em países africanos, etc, sem a mentalidade de colono, ou seja, não impor mentalidades e pensamentos europeus, não fazer propagandas de caridade exagerada como se o povo africano esteja sendo "salvo" por esses países e o fundamental, tratá-los com respeito e igualdade, sempre tendo em mente que a realidade dos países africanos é de entendimento dos africanos apenas.

As crises humanitárias no continente também não recebem atenção por conta do imperialismo que ainda existe nas raízes das organizações mundiais, a República Democrático do Congo está sofrendo com uma das piores crises dos últimos tempos, mas isso não é noticiado como uma guerra na Europa é, exatamente por causa do pensamento racista, preconceituoso e imperialista de que as crianças, mulheres e homens africanos não precisam dessa atenção. "Um recorde de 6,9 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas na República Democrática do Congo (RDC), em virtude da violência e dos conflitos" - Isso foi anunciado pela ONU em outubro de 2023. O Sudão do Sul também sofre com uma catástrofe total.

Procure informações, doe, compartilhe, proteste, essas ações ajudam a comunidade mundial a noticiar esses conflitos da maneira correta e pressionar a ONU por mais ações em defesa dos direitos humanos.





Fonte: Instagram